Crónica do Comendador Marques de Correia
Publicado no Expresso (pág. 11), do dia 3 de Junho de 2011 (dois dias antes das eleições)
ÀS URNAS, SEUS MORTOS (QUE VELAMOS POR VÓS)
Às vezes, rio-me da importância que a comunicação social e as pessoas vulgares dão às campanhas eleitorais. Em particular, a esta campanha. Quem, como eu, já sabe o resultado até às centésimas não pode deixar de rir com aqueles pândegos a ficarem roucos de tanto gritar.
Nem Sócrates nem Passos o sonham, e os outros muito menos, mas tudo foi combinado no hotel de Bilderberg, em Arnhem, Holanda, a instâncias de um misterioso senhor Coubert, ou Joubert ou Loubert (há dúvidas sobre a correta pronúncia do seu nome). Comigo, estiveram presentes dois portugueses cujo nome jurei não revelar, embora eles sejam tão importantes que vocês nem sabem quem são. Dos outros, lembro-me de Ariel Goldschmidt, que representa os interesses da banca judaica; Adrià La Fuente, uma estrela ascendente do Opus Dei; Rudolf Grimms, que faz a ponte entre a Grande Loja Suíça-Alpina (repleta de banqueiros) e a Grande Loja de Inglaterra, poderosas obediências maçónicãs; Rober Vilain, um templário esotérico; o cardeal Esquemini da Cúria Romana, Rouskiev, um enviado dos interesses petrolíferos russos; Danny Husk, um agente importante da CIA na Europa; Poul Thomsen, do FMI, Gerard Steinberg, um alemão da Trilateral e um chinês de nome Bao.
Estes eram apenas os mais importantês, havia outros, menos recordáveis, que se movimentavam com recados e intrigas sobre outras paragens. Cormo Bao deixou claro, Portugal é um pequeno problema, mas tem de ser resolvido por causa do euro, que por sua vez tem influência no dólar e no yuan. A fragilidade de um dos vértices deste triângulo afetaria terrivelmente a possibilidade de o capital financeiro continuar os seus negócios lucrativos – eis o que ali reunia tanta gente de tanta proveniência, para resolver o "pequeno problema português". Na verdade, as coisas ficaram rapidamente solucionadas. Quem ganha, por quanto ganha e quem perde e o que lhe acontece (está em aberto saber se é um lugar na Gazprom Renováveis ou ir dar aulas de política).
Jantámos bem e voltámos aos respetivos países.
Em Portugal começou a campanha com uma luta taco a taco. Essa é a maneira habitual, explicou Grimms, de levar mais gente a votar, instalando-se a ideia de que o povo decidiu o futuro do país. Vilain ainda tentou a piada de os deixar empatados – "só para nos divertirmos" – mas a ideia não pegou. De qualquer modo, Goldschmidt vincou o programa: No pain, no gain, como diz o provérbio! Ou seja, sem o sofrimento (dos tugas) não há ganho (nosso).
Até agora a campanha seguiu o guião. Ninguém fala das medidas de Goldschmidt, autênticas imposições do grande (diria mesmo enorme) capital financeiro. Os pequenos incidentes, sem importância, como previu e preparou Rouskiev, tomaram conta do dia a dia. As sondagens evoluíram de modo a que não se saiba quem será vencedor, dando a entender que a decisão cabe ao eleitorado, embora já desenhem os contornos da solução. Mas o importante é que os bancos voltem aos lucros e lá chegaram de Bruxelas os milhões.
Podem perguntar-me porque revelo, pela primeira vez, este tipo de informações. Ora, cinicamente, respondo: porque vós não acreditais! Ireis votar de qualquer modo, como zombies; mortos-vivos comandados por uma força superior. Como dizia La Fuente, "mandar os portugueses votar é como mandar mortos para às urnas. Quase me apetecia gritar: Às urnas, seus mortos!". E todos se riram, embora o russo e o chinês não tenham percebido a piada, pois nos seus países não metem cadáveres nas urna, despacham-nos diretamente para a vala comum, acrescendo o facto de, na China, não terem, sequer, votos. Poder-vos-ia dar já os resultados das eleições, mas os presentes na reunião fizeram um acordo com o Rui Oliveira e Costa, de modo a ser ele a dá-los às oito da noite de domingo, através de uma sondagem à boca das urnas que está numa gaveta lá de casa. Só por isso, não os partilho.
Porém, munido destes segredos, posso assegurar-vos: aconteça o que acontecer, os ricos vão continuar ricos, os pobres vão continuar pobres e o Tony Carreira vai continuar a encher concertos. Ou seja, no essencial a vida não muda, é previsível. E sabem porquê? Porque num hotel ao pé de Arnhem, o hotel de Bilderberg, alguns homens superiores tomam conta de vosso futuro. E do de Sócrates. E do de Passos.
As notas que se seguem foram acrescentadas no dia seguinte às eleições e são estranhas ao comendador:
Nota 1:
Às 20 horas, do dia 5 de Junho, a SIC anunciou o vencedor das eleições legislativas com base num estudo da Eurosondagem, realizado à boca das urnas, sob a responsabilidade de Rui Oliveira e Costa. Foi como responsável por esta sondagem que o próprio Rui Oliveira e Costa entrou no ar às 20:22 para apresentar as suas previsões distrito a distrito.
Nota 2:
O mesmo Hotel de Bilderberg mencionado na crónica foi palco de um outro importante encontro entre altas individualidades da cena global no ido ano de 1954. Este grupo de influentes personalidades, hoje conhecido, devido a esse primeiro encontro, como grupo Bilderberg, e que é composto por membros permanentes e convidados rotativos, tem repetido os seus encontros a um ritmo anual, sempre num país diferente, e sempre com absoluta discrição, pois lá é discutida a agenda política, económica e militar do panorama internacional para o ano seguinte.
O seu próximo encontro está agendado para o próximo fim-de-semana, de 9 a 12 de Junho, no Grand Hotel Kempinski, em St. Moritz, na Suíça.
Na sua lista não oficial de mais de 130 convidados irão figurar os principais directores gerais da Banca Internacional, altos responsáveis militares, membros da realeza, directores de corporações líderes no mercado internacional, proprietários e directores gerais de Meios de Comunicação Social, primeiros-ministros ou seus representantes, e, também, líderes políticos prestes a exercer cargos de primeiro-ministro.
A avaliar pelas listas divulgadas nos últimos anos, Portugal, para além de um membro permanente, é ainda representado por dois outros convidados, que quase sempre ou são pessoas com cargos importantes num dos dois principais partidos políticos, ou são futuros potenciais primeiros-ministros. São exemplos dos últimos António Guterres, Durão Barroso, Santana Lopes e José Sócrates.
Posto isto colocam-se duas questões
- Saber se Passos Coelho (que até hoje não participou em nenhuma reunião deste grupo) irá ao seu encontro já no próximo fim-de-semana.
- Saber se a comunicação social fará alguma cobertura do evento.
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